sexta-feira, 13 de julho de 2012

Rock in night


Sexta-feira 13. De julho. Dia mundial do rock. Noite, agora, já passava das sete da noite. E bares, gentes, carros, luzes as mais variadas e coloridas, gordas, com música ao vivo, possantes, barulhentos, sedentos, estroboscopicamente entrando e saindo de mesas, balcões, pubs, mercados, farmácias, pets... Downtown fervilha. Em cadeiras verdes de plástico pedimos cervejas, caipiras, whiskys, vodkas e tequilas, porque ninguém é de ferro. En passant, lambuzamo-nos com oleosos e amarelados retângulos de polenta por sobre iscas de calabresa, ovos de codorna, queijos quadrados imensos e, pra depressão geral da mesa, corações e corações de galinhazinhas que, há tempos, foram aqueles pintinhos amarelinhos, feito bolinhas de tênis emplumadas, fazendo piu, piu... piu, piu. Mas, azar deles. Pedimos outra ceva e mudamos rapidamente de assunto. E imediatamente lembramos dos Anárquicos e Calculados, que em minutos estariam à nossa frente ali na João Alfredo com a Travessa do Carmo. Showzaço. Borges e Pâmela, meus parceiros de noite, fizeram suas breves explanações cultural-musicais sobre a banda, suas músicas preferidas, performances anteriores e, já de pé, tomamos o rumo do barulho, que já se ouvia a duas quadras dali. Ao entrar na João Alfredo, os acordes das guitarras nos fizeram levitar e, assim, flutuamos diante e sobre milhares e milhares de cabeças loucas, feitas, de nego, dinossauro, ocas, duras... todas. E estacionamos a metros do trio elétrico onde Samuel Meneghetti já mandava ver sua terceira, quarta música bem embalada. E a batera mandando ver atrás, com solos que convidavam a goles e mais goles de cervejas cada vez mais geladas... e a gente tomando, e dançando, pulando... até começar aquela música, aquele momento, aquilo que mudaria o rumo de todo aquele dia-noite mundial do rock. Assim que os primeiros acordes de “O Nome Dessa Rua” ecoaram pelos saguões e corredores e escadarias dos edifícios da Cidade Baixa, minha mente, meus olhos, meus ouvidos, meus cento e dezessete sentidos se ouriçaram e brilhou uma ideia que, porra, vão se fuder, alguém ia ter que ter lá em cima do trio naquela hora... Claro, caralho! Era dia do rock, a rua estava lotada, todo mundo trilili, o som alto pra cacete e, no refrão, Samuel gritaria aos quatro quantos da nossa mui leal e valerosa Porto Alegre que... pãrãrã... “Na Rua da Conquista...aaaa, Travessa Paraísooooooo”. Pô, é lógico que o Samuel Meneghetti vai sacar e trocar, de prima, ou na segunda vez que entoar o refrão, por “Na Rua João Alfredooooooooo,  co’a Travessa do Carmoooooo....”. Meu Deus! Paralíticos andariam. Senhoras emboloradas e cinzentas jogariam seus rolos de cabelo no asfalto, aos gritos, enquanto grupos de lindas e reluzentes garotinhas balouçariam seus peitos nus das sacadas trepidantes das redondezas, além dos casais que, em pleno leito da rua, beijariam-se apaixonados e ensandecidos a comemorar aquele momento mágico que só o bom e velho rock’n roll nos proporciona pela vida afora. Mas, e por toda a nossa vida afora sempre haverão “mas”, mas ninguém teve aquela “minha” ideia. E veio a terceira vez o refrão, e a quarta, e nada. E Borges e Pâmela já haviam feito um sinal concordando com a minha sacada, mas nada acontecia. Até ali. Até aquele instante. Não sei nem como, mas ao tentar correr em direção ao trio, com a lata de cerveja na mão, tropecei feio em algum objeto no chão e, cambaleante, dei encontrões em gente que dançava ali na frente, chegando a encharcar de ceva os peitos voluptuosos e acolchoadamente macios de uma loira que deu o azar de estar bem ali, naquela hora, naquele lugar, na noite mundial do rock. Os passos seguintes foram trôpegos e perigosos, pois as banquinhas de bebidas, algodão doce e churros emparelhavam-se feito colunas militares a avançar sobre mim, por mais que delas tentasse me desvencilhar. Sentia que a música estava terminando... precisava avisá-los antes que fosse tarde demais. Nem notei, pelo frenesi de sons/gritos/luzes/álcool, quando os amigos da loira voluptuosa abriram uma clareira entre as gentes, indignados, bestializados, endemoniados, capetalizados, endiabrados, e com álcool nas mentes, encostaram bufando atrás de mim. Não vi isso. Porque pulava naquele momento escandalosamente em frente ao trio elétrico berrando “na Rua João Alfredoooo”, Samuel!!! “Co’a Travessa Paraísooooo...”. Estão me ouvindo? Ei!!! Aqui!! E ao dizer aqui, agarrado ao trio, caí sobre a pilha de caixas de cerveja e refri, espalhando meu sangue, cacos de vidro e mais barulho ainda naquela hora. Com o rosto no asfalto, vi que Borges e Pâmela já se engalfinhavam com amigos dos amigos da gordinha peituda. Os donos de carrocinhas que tentaram se aproveitar das garrafas que não quebraram foram imediatamente atacados pelo pessoal das bebidas, que usavam essas para defesa e ataque. Ouviu-se sirenes, pneus cantando, gritos e, dizem alguns, até tiros foram disparados. O saldo só se saberia no Diário Gaúcho do dia seguinte, brincou Borges com sua mochila em farrapos às costas, abraçado a uma sorridente e sempre bela Pâmela, mesmo depois de vários chutes e croques nas paletas. A franja, pelo menos, estava impecável. Depois dos pontos e suturas triviais no HPS, despedimo-nos exaustos e felizes. Saranda pra um, altos da Protásio pra outra. E eu, trêbado ainda, botei o fonezinho no ouvido, aumentei o som e... zum. Tomei meu rumo, pensando na noite mundial do rock, nos meus parceiros de festa, nos loucos acordes de uma guitarra e, claro, nos belos e fartos e voluptuosos e molhados e macios peitos da loira que, vocês devem lembrar, eu falei algumas linhas atrás.