Há pouco tempo desapareceu do mapa, escafedeu-se, virou pó, gaseificou, sumiu, explodiu, se desintegrou, tomou doril, viajou, voou, pegou a estrada, deu as costas, pluf! Em segundos, não tínhamos mais o corpo, as tatuagens, os cílios postiços, os porres, os tombos, a voz afinada, o brilho de suas pesadas maquiagens, o visual excentricamente correto, os barracos e rodadas de baiana que só ela sabia dar. Amy Winehouse havia morrido. Ninguém mais ouviria suas loucuras vocais e sociais e marginais e viscerais e espirituais e diabólicas e loucas e mais loucas e cada vez mais loucas apresentações “artísticas”. Que pra mim não tinham nada de artísticas... Era ela purinha, tipo cachaça, sem o golezinho do santo. Ela era o santo... ela era a puta... a risada fora de hora, a calça bem baixa, deixando a calcinha à mostra... os peitos maravilhosos em um ângulo e murchos e sem graça em vários outros. O copo na mão, quase sempre. Os cabelos, um capítulo à parte, eram todos: lindos, horríveis, sebosos, brilhantes, um ninho, um lixo, uma pasta, uma vassoura...
Detesto gente que rotula gentes... Pensando bem, detesto gente que inicia frases com “Detesto...”. Vamos de novo: quem ganha o quê enchendo os pulmões pra chamar outrem de feio, magrão, fofoqueiro, depravado, mulherengo, dadinha? Ninguém! Chega de cinismo, de falsidade, de tapinha nas costas, de rótulos, de pirâmide social, de classes A, B e o caralho... Vamos usar a pleno os pulmões pra dar aquela cafungada profunda na brisa salgada do mar, pra berrar feito adolescente em um show de rock/pagode/sertanejo universitário/sermão da igreja, os dedos ágeis pra fazer cócegas e carícias em quem você quiser e esteja receptivo, os ouvidos pra escutar um pássaro sem pressa, um choro de nenê sem impaciência e curtir um solo de guitarra “daquela” música que nunca sai da sua cabeça. E o coração... ah, o coração velho de guerra aberto a tudo, a todos, a qualquer empreitada que pintar: acolher um novo amigo, chorar pelo que partiu, apertar por aquela paixão fulminante, encolher e quase sangrar pelos atropelos e desencontros que todo dia são colocados a nossa frente, ou então explodir de alegria com um gol, um emprego, um casamento, um filho...
Sinto saudade da Amy.
eu também...linda e louca
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