sábado, 29 de outubro de 2011

Bom verão!




Desamarre os tênis sem pressa. Desatadas as cordas, não tire-os ainda dos pés. Espiche-se e espreguice-se quantas vezes forem necessárias pra se ouvir todos os músculos, nervos, tendões, cordas, cílios, esfíncteres, epitélios e artelhos se espatifando de prazer... Abra os olhos lentamente (eu duvido que você estivesse fazendo tudo isso aí atrás pros tendões, pros artelhos e pros cílios com os olhos bem arregalados!), e ainda com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça comece com as pontas dos pés aquela difícil tarefa de tirar pelo calcanhar o tênis do pé esquerdo e, longos segundos depois, o do direito... Ah!, quase urre. Umas diminutas flatulências clássicas, sem muitas extravagâncias sonoras, são sempre bem aceitas e respeitadas nesses solitários momentos. Ao usar normalmente tênis não estamos de cinto, ou cinta, mas se ele estiver ali, não esqueça: infle com gana a barriga naquela área de aperto e briga eterna entre os dois (cinto(a) e barriga) e, com sutiliza, dê aquela mínima comprimida na “pança” e, dedos ágeis, liberte seus churrascos, sushis, lasanhas, cervejas e vinhos que hibernam um inverno inteiro dentro da gente e que, pra sair, nos cobram caro... Ah!, diga de novo... Aliás, os ahs!: essas interjeições a partir de agora farão parte do vocabulário trivial da manhã à noite. Ah, acordei... Ah, um jornalzinho bem garimpado... Ah, uma musiquinha boa numa hora idem com companhias idem... Ah, não brinca que tem aquele prato preferido no almoço... Ah, então busca meia dúzia de Cicarelli... Ah, vou dormir um pouco, nesse ventinho, no colchão, na grama... Ah, merece um beijo, e muitos e muitos beijos... Ah, papos, caminhadas ao vento, ideias ao vento, contas ao vento, problemas ao vento, dores ao vento... Ah, bota uma música bem alta na “vitrola” e vamos cantar todos, bem alto, que essa nossa vida é muito louca. Quando precisar, amarramos bem forte as cordas dos tênis. Por enquanto... Bom verão!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Saudades...


Há pouco tempo desapareceu do mapa, escafedeu-se, virou pó, gaseificou, sumiu, explodiu, se desintegrou, tomou doril, viajou, voou, pegou a estrada, deu as costas, pluf! Em segundos, não tínhamos mais o corpo, as tatuagens, os cílios postiços, os porres, os tombos, a voz afinada, o brilho de suas pesadas maquiagens, o visual excentricamente correto, os barracos e rodadas de baiana que só ela sabia dar. Amy Winehouse havia morrido. Ninguém mais ouviria suas loucuras vocais e sociais e marginais e viscerais e espirituais e diabólicas e loucas e mais loucas e cada vez mais loucas apresentações “artísticas”. Que pra mim não tinham nada de artísticas... Era ela purinha, tipo cachaça, sem o golezinho do santo. Ela era o santo... ela era a puta... a risada fora de hora, a calça bem baixa, deixando a calcinha à mostra... os peitos maravilhosos em um ângulo e murchos e sem graça em vários outros. O copo na mão, quase sempre. Os cabelos, um capítulo à parte, eram todos: lindos, horríveis, sebosos, brilhantes, um ninho, um lixo, uma pasta, uma vassoura...
Detesto gente que rotula gentes... Pensando bem, detesto gente que inicia frases com “Detesto...”. Vamos de novo: quem ganha o quê enchendo os pulmões pra chamar outrem de feio, magrão, fofoqueiro, depravado, mulherengo, dadinha? Ninguém! Chega de cinismo, de falsidade, de tapinha nas costas, de rótulos, de pirâmide social, de classes A, B e o caralho... Vamos usar a pleno os pulmões pra dar aquela cafungada profunda na brisa salgada do mar, pra berrar feito adolescente em um show de rock/pagode/sertanejo universitário/sermão da igreja, os dedos ágeis pra fazer cócegas e carícias em quem você quiser e esteja receptivo, os ouvidos pra escutar  um pássaro sem pressa, um choro de nenê sem impaciência e curtir um solo de guitarra “daquela” música que nunca sai da sua cabeça. E o coração... ah, o coração velho de guerra aberto a tudo, a todos, a qualquer empreitada que pintar: acolher um novo amigo, chorar pelo que partiu, apertar por aquela paixão fulminante, encolher e quase sangrar pelos atropelos e desencontros que todo dia são colocados a nossa frente, ou então explodir de alegria com um gol, um emprego, um casamento, um filho...

Sinto saudade da Amy.

sábado, 1 de outubro de 2011

Heavytalizando a lightificação...

Confesso.
Até o último minuto poderia ter heavytalizado a lightificação ao invés de lightificar a heavytalização. Mas algo em mim dizia que o lightificar o heavy tinha mais a ver com o hoje institucionalizado politicamente correto, pra mim sempre o melhor caminho a tomar. Heavytalizar o light, contudo, me fascinava em suas muitas e múltiplas nuanças. Tal qual lightificar o heavy, a outra possibilidade. Tinha que ser um, entretanto. Ao longo de nossos pirados, atordoados, oprimidos, empurrados e enlouquecidos dias e meses e anos damos de cara com ene situações, quase todas com pelo menos duas opções de solução: a certa e a errada, a preta e a branca, a mais curta e a mais longa, a fiel e a infiel, a doce e a salgada, o mar e a serra, a gelatina e a rapadura, a picanha e a salada, a coca e a pepsi, de cara e a mil, e tudo me enlouquecia mais e me entontecia de dúvidas e dúvidas e mais dúvidas e dúvidas.
Quem é heavy? Que situação é light? Tem olhar light e olhar heavy... pegada light e heavy... beijo idem... O ideal, então, seria o meio termo, o consenso, o bom senso, o que eu penso de bom...
Heavytalizemos, pois, a lightificação, quando a situação assim o exigir. Caso contrário, e eles haverão aos montes, lightifiquemos momentos pesadamente heavytalizados.
Sem stress... na boa... na manha...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Muito prazer...



Tal qual Borges, comeria menos vagem, se pudesse refazer algumas coisas. Andaria muito descalço, assim como falaria coisas que ficaram engasgadas, chutaria aquela bola que estava sobre a linha e eu na hora titubeei e não pus o pé, e abusaria vez que outra da maionese, aquela com limão, bem branquinha...
Pra ilustrar melhor meu modo de ver, ouvir, tocar, sentir, participar deste maravilhoso mundo novo, tirei do baú um texto antigo, uma brincadeira de colegas de trabalho, mas que espelha de forma bem pessoal minha visão de coisas, situações e gentes. Tudo, logicamente, com uma pitadona de atualidade. Prazer... Este sou eu!

Nome: José Antonio Lamb, vulgo Tuty.
Nascimento: Dezessete de fevereiro de 1959, no bairro Niterói, em Canoas.
Signo: Aquário, com ascendentes e descendentes em todos os outros.
Hobby: Prefiro os atoalhados, meia-manga, sem estampas e em cores discretas.
Qualidade Pessoal: Tenho 17. Duas delas: senso crítico e espontaneidade.
Defeito Pessoal: Apenas 39. O vigésimo nono é o esquecimento. Não guardo na memória datas de aniversários, números de telefone, último dia de pagamento de contas...
Qualidade Que Mais Admira: Mentes abertas, pelo que eu entendo que seja uma mente aberta.
Frustração: Aos 52 anos, já pintaram várias. Futebolisticamente, então... Mas teve outras. Na família, nas amizades, no trabalho, sempre pintam situações frustrantes, só que temos de, lentamente, degluti-las (já diria o filósofo Zagallo).
Lazer: Sem nenhuma dúvida, um futebolzinho (sete, salão, campo, botão, gol a gol, na areia, futvôlei...). Depois, e por força do peso inexorável do tempo, já bem perto do futebol, uma bela caminhada “easy rider”.
Meta: Morrer (aí pelo começo do inverno de 2045, num final de tarde, um crepúsculo) como um velho novo. Não quero que minhas ideias envelheçam.
Família: Sou um pouco egoísta (defeito número 14), acho que posso tudo sozinho. Mas não posso. A família me acalma, alimenta (a cabeça) e lança de volta pra luta (ou vida?).
Mania: Muitos têm: ler no banheiro. Esporte... ahn... polícia... ahn... variedades... ah!
Paixão: Perdoem-me o plágio, mas “sem ela não dá!”.
Prato Predileto: Acho o “a la minuta” perfeito: arroz, bife bem passado, batata frita, ovo bem passado, uma saladinha de tomate e alface picadinha e um suco de laranja. Se tiver uma cumbuquinha de feijão, melhor. Fala sério: não dá água no antebraço direito?
O Que Mais Gosta: De falar com e ouvir pessoas interessantes. Não precisa ser inteligente, mas tem que ser interessante.
O Que Menos Gosta: De acordar de manhã cedo, numa segunda-feira de inverno, com chuvas e trovoadas, e ainda cheio de coisas pra fazer. Admiro demais os ursos.
Casamento: Alguns não dão certo e machucam. Outros dão certo e fazem crescer. Acho que tenho, hoje, um casamento adulto. Quanto à instituição casamento, hoje em dia, nesta altura do campeonato... Tenho lá as minhas dúvidas.
Televisão: De cada 3.634.852 brasileiros, oito por cento apenas consegue viver sem ela. Faço parte, sem nenhum trauma, dos noventa e dois por cento que não conseguem. Vejo tudo. De Globo Rural à Grande Família, de Jornal Nacional à CQC e Pânico na TV. Até o Faustão eu vejo, confesso.
Teatro: Acho importantíssimo, altamente educativo, uma coisa alegre, que não pode acabar nunca... Mas vou pouquíssimo. (Defeito 22)
Ator: Gosto de poucos. Jack Nicholson, Al Pacino, Dustin Hoffmann, Woody Allen, Nicholas Cage... e mais uns dois ou três. Só.
Atriz: Pelo status que conseguiu como mulher bonita, grande atriz, mulher atuante, participante... Jane Fonda. Grande Fonda. E bem abaixo dela tem a Meryl Streep, a Susan Sarandon, Cameron Diz, Jennifer Aniston... Deu. As outras são só bonitas.
Filmes: Muitos... Mas como esqueço muito das coisas (lembra do defeito 29 lá de cima), pensei agora e lembrei de seis deles: Estranho no Ninho, Expresso da Meia-Noite, Titanic, O Iluminado, Tropa de Elite e Se Beber Não Case. (Não aceito críticas – Defeito 29.)
Escritores: Leio pouco, apesar de tudo que envolve papel e letras na minha vida profissional. Livros grossos, então, nem chego perto. Taí um meu outro defeito (parece que é o 35º) que preciso urgentemente arrumar. Ah... escritores: Luis Fernando Verissimo.
Música: Pink Floyd, disparado. Depois tem Beatles, o finado Raul, Rolling Stones, Lennon, U2, Black Sabbath, Legião, a louca da Lady Gaga, alguns (poucos) gaúchos e, às vezes, uma lentinha, pra dançar junto.
Medo: De pessoas más, que não têm medos. E como tem.
Amor: Prefiro o misterioso, denso, total e todo. (Faça amor, não faça guerra.)
Humor: Prefiro o descarado, disperso, total e todo. (Faça humor, não faça guerra.)
Superstições: As comuns. Como não passar embaixo de agosto preto.
Bebida: Vinho, pepsi, velho barreiro, rum, gin, gin-tônica, campari, whisky, sprite, suco de tomate, sopa em xícara, red bull, cerveja, tudo. Não sou “nojento”.
Sonho: Que cessem as guerras. Que ganhe a paz. Se possível, de goleada.
Viagem: Depois que conheci Floripa, Garopaba, o Rosa e a Ferrugem, sinto que um dia volto pra lá pra ficar. Bem de cantinho...
Nota 10: Para os “Greenpeace” da vida...
Nota 0: Para qualquer tipo de preconceito...

PAZ PRA TODOS!

Sentimentos Antagônicos


As flores nascem às pencas, dia a dia, sol a sol
Ingnorando as lanças pontiagudas de cercas enclausuradoras
Belas, perfumadas, de matizes cmyk, rgb e até pantones
Enquanto pensamentos e palavras ferem, fétidos e fúteis
É gol! Grito... burburinho, ceva... bandeiras tremulando
Morreu! Capela tal... café preto... era uma boa pessoa...
Amemos enquanto forças tivermos
Nossas dobradiças enferrujarão inexoravelmente
Ao som de rock, funk, pagode... ou sem fundo musical
Silêncio que pode ser transporte ou sepulcro, sabe-se lá
Azul ou vermelho? Vista-se dos dois, e verde... amarelo... roxo!
Não critique... ajude. Não duvide... acredite. Não desista... faça.
Ame... ou não. Viaje... ou não. Tenha filhos... ou não.
Abra-se ao inusitado, à surpresa... Inove. Multiplique-se.
Banhe-se de chuva, de mel, de chantilly, de saliva...
Sorria de tudo, pra todos, em todo lugar, sozinho. É fácil.
E chore pipas pelo amigo, pelo time, pelo amor volátil.
Não tenha medo e cuide-se!
Feche os olhos mas, lembre-se, mantenha-os sempre abertos.
Amanhã é outro dia... e pode fazer um sol maravilhoso.
Ou chuvas, raios e trovões.
Escolha...
Afinal, as flores nascem às pencas, dia a dia...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Palavras são palavras...

Orquídea acordou estupefata, modorrenta e masmorra, embora a night posterior pudera tivesse foste divisa, quando aquele arquétipo galanteador saudita catapultou-se sobranceiro em direção ao seu colo refratário às pampas, mordiscando suarento seu belo par de sextos sentidos obrigatórios. Não conseguia esquecer os arfantes balbuciares de melodramáticos surrupios, cantarolados em uníssona consonância com piscadelas hereditariamente lânguidas. E movimentos frenéticos de púbis, peles, pelos e prosas pairavam poeirentos sobre pedaços de pessoas pitorescamente possuídas em posições quase psicodélicas, psiquicamente pensando. Ou o callhorda collorido caçoando com compllascência da cavernosa, callamitávell e cadavérica condescendência dos coitados cidadãos comuns, callçando com corpullenta comemoração cinematográfica a camiseta cllara com cores crepons e citação crivada em seu centro: "Companheiros, conseguiremos concentrar os corruptos nas cadeias, os comunistas comunicáveis, os canibais com comida, as coxas colladas, os crocodillos coaxando callmamente nos caudallosos córregos cristallizados que caem das cordillheiras de Creta, na Collômbia. Obrigado".

Agenciando uma solução

Trabalhei durante anos em uma microagência (Visor) dentro de uma mega-agência (MPM Propaganda), em um belíssimo prédio nos altos do Morro Santa Teresa, onde hoje está a sede-matriz da Net em Porto Alegre. Na época, eventualmente colocava textos meus no boletim interno da mega, uma vez que tive um bom relacionamento com um dos M da casa (Mafuz). Pra fazer uma média com o homem, com a MPM e também citar o nome de empresas de propaganda da época (portanto, se você é jovem, lembrará de muito poucas delas), criei este...



AGENCIANDO UMA SOLUÇÃO

Raul estava desesperado. As vendas de sua empresa, após o Plano Cruzado, despencaram nos gráficos. Sua produção diminuiu quase à metade. Dispensou vários funcionários e, pior, seus clientes começaram a desaparecer, a abandoná-lo. Os poucos amigos aconselhavam-o a investir o pouco capital que ainda lhe restava em uma campanha publicitária forte, algo capaz de reativar suas vendas e, assim, reassumir sua posição de destaque no competitivo mercado. Mas como? Que campanha? Que agência?
Raul começou a pensar no assunto...
Deveria ser algo em grande ESCALA. Algo que mesclasse TEXTO & ARTE, talvez com algum TRASSO de humor. O SÍMBOLO da campanha deveria ser o talento, a qualidade. A MENSAGEM teria que chegar DIRECTA, com grande EXPRESSÃO e com GRIFFO nos pontos que merecessem destaque. Para que obtivesse EXITUS, a mesma deveria trazer uma BOA NOVA aos seus clientes e um novo REALCE aos seus produtos. Usaria qualquer ARTEFACTO para reacender a CHAMA de seus negócios, para dar mais IMPETUS aos seus funcionários, EMPROL de um maior volume de vendas. Tal qual no futebol, precisava de um LÍBERO para travar as investidas dos concorrentes e, assim, vestir uma nova IMAGEM perante seu público consumidor. Raul precisava achar uma NOVA FORMA de COM TATO. Tinha que deixar a PORTABERTA a tudo e a todos. Porém, precisava pensar e agir em P.A.Z. e de uma forma ATIVA, detalhe por DETALHE. Haveria de ser um LANCE certeiro, seguindo uma LINHA única, que tivesse REFLEXUS diretos em sua produção e em suas vendas. Ele chegou a lembrar o passado: RAUL MOREAU alguns anos no Rio de Janeiro, onde fez parte de um GRUPO DE ARTE, e de onde trouxe uma IDEIA de grande expressão e muito OBJETIVA: a ideia da criação. Só que, agora, Raul sentia-se dentro de um BOX, parecia preso, sem ALTERNATIVA.
Pensa daqui, pensa dali, e eis o MODELO:  a solução para o seu problema era, sem dúvida, a MPM! E lá se foi Raul, Silveiro acima...

My friends...

Cada um de nós gostaria, tenho certeza, de poder agradecer a todas as pessoas que, de uma forma ou outra, fizeram parte de nossas vidas. Mesmo aqueles que, de tão rápido e fugaz, não sobra nem o nome. Eu, como sou meu empresário, editor, autor, chefe, boy, serviços gerais, faço e desfaço o que quiser nesse blog, achei por bem dispensar algumas linhas a essas almas que, mesmo até sem saber, tiveram importante papel na montagem de meu filme de vida, ou do making of, da minha novela da vida real, meu reality show, meu romance inacabado, meu passar por essas paragens...
Para todos, que arrolei aqui sem nenhuma ordem de parentesco, amizade, cronologia ou preferências pessoais, e até mesmo aos que eu provavelmente terei esquecido no final, um puta abraço e obrigado por tudo.
(A fudê: quando comecei a pensar nos nomes, e a escrevê-los, sempre os imaginei em páginas impressas, uma, duas, três páginas, no máximo quatro, sei lá... Demorô! Agora é blog, é virtual, é Ctrl C, Ctrl V, dá pra ir acrescentando um, dois, cinquenta, trezentos e vinte e sete, mil seiscentos e quarenta e nove nomes novos, pessoas novas, histórias novas, casos novos, amores novos, brigas novas, colegas, amigos, donos de fruteira, peladeiros de fim de semana, cobradores de ônibus... Ducaralho!)
Se, por acaso ou por cansaço visual, você não se achar nesta primeira lida, não dá nada. Várias, e várias, e várias e muitas várias outras lidas poderão ser dadas... E se mesmo assim o seu nome não aparecer, comente lá embaixo, me xingue, que logo em seguida o nome aparece, falô?! Era isso, respira fundo e mergulha aí embaixo. Grande abraço!
• Ari, Can, Zuzu, Aldinha, Lia, Alexandre, Bruno, Avelino, Rogério, Lupi, Delmar, Lago, Nicolau, Paulinho, Chico, Nei, Sonia, Marta, Cris, Nanda, Fátima, Flávio, Ivani, Alcebíades, Albino, Matias, Nubia, Susan, Rui, Itaissur, Laura, Uilson, Gueto, Lurdes, Alziro, Junior, Pinto, Ana Carolina, Ana, Carolina, Eber, Mafuz, Janice, Dorival, Valdur, Milton, Nilo, Arceu, Mário, Felipe, Eva, Almerinda, Ivanei, Renato, Gelson, Alice, Betinho, Tição, Zilio, Rodrigo, Thadyk, Melão, Maradona, Chituka, Isabel, Iran, Maria, Beth, Norton, Maninha, Sara, Débora, Lick, Buaes, Elton, Glênio, Aranha, Alda, Lilico, Nilo, Abraão, Medina, Zaida, Sergio, Luis, Evinha, Emilina, Ademio, Jucimar, Estela, Belkis, Judeu, Cabeleira, Luciano, Angela, Paula, Paulo, Raul, André, Pablo, Luis Mario, Luis, Mario, Fabrício, Bola, Bolinha, Félix, Cleusa, Melaine, Vera, Viegas, Harry, Magrão, Marciano, Wilson, Mergulhão, Neca, Monroe, Celi, Itamar, Luis Carlos, Thierry, Méme, Cátia, Silvio, Clarice, Hilda, Jacir, Bonetti, Lauro, Marília, Titila, Nenê, Vilmar, Solange, Valtinho, Homero, Camila, Luã, Fernando, Fabiana, Nolly, Keka, Tânia, Gregória, Porto, Fininho, Dilma, Alcino, Eda, Adeli, Castrinho, Tita, Inho, Ademir, Izaltina, Neuza, Marisa, Tiaraju, Clélia, Célia, Lucas, Goga, Marcel, Beatriz, Lulu, Gustavo, Urbano, Renata, Zezé, Delcina, Marilu, Roberta, Eladir, Alberto,  Henriqueta, Flavinho, Beto, Nico, Lucia, Zeferino, Oly, Rosca, Carmelito, Carmem, Márcia, Kleber, Alcides, Rosângela, Zanza, Artur, Lindoberto, Zeca, Amélia, Julia, Alessandro, Breno, Catio, Mana, Vicente, Gues, Cuca, Alvacir, Ivani, Clóvis, Chico, Ussan, Paulista, Bira, Burro, Olavo, Emir, Assis, Adilson, Nora, Zé Carlos, Carlinhos, Bonfim, Ubirajara, Marilisa, Sara, Borrega, Gugu, Pé na Cova, Batata, Mirinho, Adriano, Tadeu, Jomba, Luis Gomes, Isabel, Dari, Ottó, Albano, Ernesto, Lais, Camila, Pequeninha, Mariazinha, Dagmar, Bianca, Fabiano, Nathalye, Naiara, Dragão, Careca, Babi, Mari, Claudine, Durval, Joaquim, Bolha, Jorge, Antonio Carlos, Antonio, Carlos, Ivone, Jalva, Orlando, Carla Zen, Juarez, Lídia, Rubinho, Martins, Valquíria, Carol, Cledi, Nei, Silvio, Helena, Chico Quevedo, Pacheco, Lena, Liana, Marino, Ana Amélia, Gamboa, Fett, Beto, Chopp, Chuvisco, Tonico, Marcão, Uto, Jussara, Paulito, Rita, Torrano, Zito, Diego, Sadi, Chico Ely, Cabeça, Ben Hur, Namor, Heitor, Alfredo, Leila, Estela, Badi, Oma, Opa, Sthenio, Glória, Valdir, Louro, Tiquinho, Eva Molina, Mimi, Moza, Isolina, Francelina, Valderez, Zé Luis, Lúcio, Lúcia, Bruna, Evaristo, Pedro Macedo, Grego, Aldir, Pauletti, Deivis, Ledi, Francine, Dide, Getulio Brizola, Professor, Bivaldo, Remi, Norma, Noêmia, Mexicano, Pãozinho, Pistoia, Macaco, Giba, Rosane, Edmundo, João, Teresa, Hofmeister, Allei, Gamito, Damico, Danilo, Manina, Lila, Teca, Pulga, Luzia, Wagner, Anelise, Nice, Anissis, Reizinho, Jucemar, Flores, Bandeira, Vanzelotti, Virgínia, Isaura, Inês, Dinho, Celina, Deco, Ataliba, Menaura, Valtinho, Arnóbio, Loly, Justo, Tuka, Eliziário, Ticão, Bel, Jane Toniolo, Chumbão, Guiga, Fe, Roque Fachel, Fachel, João Satt, Circe, Diná, Ivo, Arlete, Antonia, Beth Dragão, Irã, Mara, Irma, Ernani, Coco, Rejane, Regina, Régis, Malu, Zazá, Erna, Cachoeirinha, Mario Argolo, Dete, Rafael Cony, Canavieira, Arlém, Florinda, Sebão, Adelina, Clóvis, Marina, Nilton, Evaldo, Warpechowsky, Cao, Kalunga, Adair, Rubão, Credi, Dari, Frederico, Eraldo, Ângelo, Papu, Flávio Dutra, Sandro, Jean, Grilo, Kika, Bruna, Duda, Ferraz, Pedro, Kochenborger, Evinha Mendonça, Jorge Mendes, Cícero Soares, Tuti, Tutti, Airton, Amilton, Marlei, Evandro, Caio, Sergio Gonzales, Olívia, pitan,  Aldori, Sadi, Polaca, João Vitor, Eron, Gema, Isar, Fachin, Tchóin, Chumbinho, Charuteiro, Zé, Fossá, Frank, Volmar, Hélio, Lahire, Renilda, Salada, Nanão, Rosaura, Alcina, Gladis, Py, Juca, Poeta, Pelotas, Pepino, Renê, Pochoca, Caduco, Vladimir, Jo, Português, Henrique, Plínio, Benê, Chico Fanta, Inalda, Lori, Pardal, Louro, Solani, Piero, Menegaz, Gilmar, Farias, Silvia, Oppermann, Marili, Veia Beiço, Cirilo, Themis, Maria Teresa, Luthi, Grando, Veio, Tourinho, Touro, Fajardo, Ygor, Saquito, Cadinho, Bleier, Tefo, Costa, Laidi, Gargamel, Mônica, Lis, Kelly, Nívia, Chacrinha, Anderson, Markito, Cabelo, Mano, Reginaldo, Jaqueline, Isadora, Luisa, Lisiane, Elaine, Daniel, Priscila, Tamara, Juliana, Zaira, Tevez, Morruga, Vander, Azeitona, Yuri, Kaká, Mazão, Jé, Galarraga, Rômulo, Guma, Denise, Diego, Alba, Analis ...

sábado, 27 de agosto de 2011

Cena de ciúme

O bar era daqueles bem brasil, alta gritaria, com caixas de cerveja fazendo o papel de biombos etílicos entre mesas dobráveis amarelas da skol, de onde a todo momento espolcavam "tschxsh" (se bem que muitos linguistas e escritores de vanguarda já usem o "thxschxx"!) de garrafas de brahma e kaiser e antarctica e até bavária sendo abertas.
Os dois sentaram bem no canto, embaixo de uma televisão preto e branco que passava uma aula de física quântica do telecurso septuagésimo trigésimo oitavo grau, da Fundação Roberto Marinho Neto e com a chancela publicitária da sua, da nossa, da de todos nós juntos, mas todos mesmo, sem exceção, Tabacaria do Seu Glênio, ali, dobrando na Sertório, anda mais três quadras, entra à direita e já vê, de longe, na subida do morro, a casa verde com janelas verde clarinhas. É ali. (Entra jingle: "Tabacaria do Seu Glêeeeeenio. Tem do modess ao balão de oxigêeeeeeenio!"). Durante o comercial seguinte Eme não resistiu e, após gritar mais uma brahma ao caixa-varredor-balconista-garçom-leão-de-chácara Zoínho (o pobre não tinha dois dedos da mão esquerda), interpelou Agá sem pestanejar:
"Chega, Agá, eu não suporto mais os seus agarramentos com Ce, as noites passadas com Ene e seu irmão Ele e, ainda por cima, agora deu pra sonhar com o maldito Esse, desde que começaram a frequentar shows, shoppings e essas frescuras todas dos gringos. Pra mim deu, Agá."
"Calma, Eme!", balbuciou Agá lamentosa e gosmenta. "E tu, hein, tu que não larga o pé daquelas duas barangas nojentas e antipáticas; o que que elas têm que eu não tenho? Fala, Eme."
"Falar o quê? De quem tu tá falando, pô?"
"Ora, ora, tá esquecido, é? A piranha da Pe e aquela clarimunda da Be, e tu sempre atrás delas, e elas sempre de costas pra ti, as duas rindo de mim..."
"Entende de uma vez por todas, Agá: isso faz parte do nosso trabalho, do nosso jeito de ser, da nossa língua..."
Por volta das sete da manhã, as gargantas secas de tanto bate-boca inútil, os dois já bastante altos e se sentindo estranhamente caixa baixa, chamaram pela última vez o Zoínho e, jogralescos, sentenciaram:
"A saideira, Zoínho."
Na tevê, começava Bom Dia Brasil, num oferecimento de Funerária Black Future, a única, e bota única nisso, a única no ramo com esquifes equipados com aparelho de dvd blue ray, ar condicionado, posto do sus, completa bibliografia de Adolf Hitler e circuito interno de tevê que só passa os trapalhões e domingões do faustão sem as videocassetadas. "Funerária Black Future: você ainda vai precisar de nós. Ah, vai!"

Hello Goodbye

Oi! E aí... tudo bem? Tudo! Na luta, né? É. Tem que ser. Não dá pra parar. Às vezes, só. O quê? Parar. Como, parar? Não, não é bem parar, é largar tudo, não se grilar, não... Esquentar? É, ficar frio, distante, longe... E aí? E aí o quê? O que que se faz? O que que se faz o quê? Quando se larga, se fica frio, longe, se vive do quê? Do resto, porra! Resto?! É, das pequenas grandes coisas: os loucos e agudos acordes de um rasgado rock'n roll, a prosa descompromissada com aquela senhora cheia de pacotes com frutas no terminal de ônibus do mercado, aquele conserto esperto na torneira da cozinha que xaropeava a noite toc-toc toda, aquele pãozinho quentinho com manteiga (se bem que uma fatiazinha de queijo sempre vai bem) da confeitaria do seu... seu... como é mesmo o nome? Não precisa. Não precisa o quê? Não interessa o nome do homem da padaria... Como, não? É importantíssimo, até porque isso é uma das pequenas grandes coisas mais sensacionais que existem: descobrir nomes de pessoas por quem cruzamos algumas vezes e menos vezes ainda conversamos abertamente com elas... Tá, e daí? Tem mais. Mais? Claro, a batida forte da onda contra o teu peito, a flor que insiste em brotar em meio a milhões de paralelepípedos geralmente retangulares,cinzas e frios. Bonito! O quê? Tudo que tu tá falando aí. Mesmo? Gostou? Claro, é um pensamento pra viajar, libertador, pra romper amarras, afinal, nós não somos só carne, né, temos cabeça para ir aonde quisermos. Isso, tu sacou tudo, cara! E tem mais, é só a gente... Opa! Apagaram a luz. Que horas são, Moisés? Dez, tá na hora. Ô, Pedrão, dá uma força, deixa a luz mais cinco minutos. Vai à merda! Esse Pedrão é um fudido! Não esquenta, cara... Não esquentar? Como? O homem é um carrasco, não podia deixar só mais cinco minutos a luz acesa? É a regra, Laurindo. Regra, regra, regra, no cu com regras. Hoje mesmo vou pensar em algum jeito de sair dessa bosta de presídio. Não esquenta, Laurindo, não esquenta... Lembrei!! Que foi, cara? Lembrei! Lembrou do quê? Do nome. Que nome? Do nome do homem da padaria que vendia pãozinho quentinho pra comer com manteiga... Aaaa! Quer saber? O quê? Quer saber o nome dele? Sinceramente? Claro, sinceramente. Não, não quero. Boa noite, Laurindo. Boa noite, Moisés.

Autorretrato

Através de atos antropofágicos
Balbuciava blasfêmias e besteiras
Constantemente claustrofóbico
Danificava dogmas e damas derradeiras

Eventualmente exercitava o espírito
Fatigado, fugia do fogo frio
Grande guerra, gás, grito, gozo
Hora h, história, homem hostil

Inteligentemente integrado, índio
Jamais o jovem julga ou jura
Levanta, livre, louco e labora
Misterioso, manso, qual mar murmura

Natureza nitidamente nitrogenada
Ofegante oprime olhos otários
Presa em parques, praças, piadas
Quieta queda em quarentenários

Razões raramente racionais
Satirizam situações de sofrimento
Transviadas em tipos tradicionais
URP, usucapião, UPC... unguentos

Vazia e vã a vida vai e volta
Xerox, xadrez e xeque-mate
Zanzando em zigue-zague na zona zen

Constatações

A vida tá braba.
A carne é fraca.
A Inês é morta.

Mas
Porém
Contudo
Todavia

É massa
Pôr em prática
Ir com tudo
Usando toda via

Não é a vida como está
E sim as coisas como são

Olhos nos olhos
Boca desnuda
Pablo Neruda

Quintana
Foi muito bacana
A mundana
Em Copacabana

Caracóis
Blue-jeans brejeiros
Um fusca vermelho
Um beijo vermelho
Sinal vermelho

Sinal amarelo
Sinal verde
Sinal amarelo
Sinal vermelho

Tchau...

Rimando contra a corrente

Em meio a tantas crises
No auge dos racionamentos
Ainda temos como consolo
O maior dos sentimentos

Para obtê-lo sofremos muito
Sem ele vivemos frustrados
Quem dera tê-lo em abundância
Para ofertá-lo aos necessitados

Amor, amor, palavra vã
Na cabeça dos insensíveis
Mas que traz em sua essência
Poderes quase impossíveis

Enfim, todo mundo é humano
Vivos como um pássaro, uma flor
Nascendo, crescendo e vivendo
No solo fértil do amor

Cervejas e picadinhos

Reflita sobre o que passou.
As tendências, os modismos, as certezas.
Projete então o seu presente e o seu futuro.
Suas aspirações, planos e ideais. Agora crie.
Faça de cara um belo "rafe" de sua ideia. Depois pense, pense, retire algumas coisas, acrescente outras. Pronto. Passe pra arte final. Com calma, paciência, mas muita determinação em fazer o melhor. Isso. Você é o seu cliente. Pense de novo. Gostou? Então aprove!


"Uma cerveja bem gelada, seu Manoel.
E um picadinho, que ninguém é de ferro!"

Passemos então à mídia. Suas ideias devem ser colocadas no momento certo, no lugar correto e pras pessoas idem. Isso! Pensou bem. Mãos à obra! Coloque uma retícula bem clarinha no seu título, para não parecer pretensioso demais em seus objetivos, mas castigue no texto, arrase, diga tudo o que tem direito, sem poupar pontos de exclamação!!! As interrogações ficam a gosto, mas não exagere.
Deu!
Depois de uma boa revisada, tudo ajustadinho, peça ao seu produtor predileto que faça 365 impressos. Se couber no orçamento, lasca uma corzinha de leve, pra descontrair. Se não der, tudo bem...
Ah! Ia esquecendo: bom oitenta e oito pra você!
E que os frutos de sua "campanha" possam pagar várias cervejas e picadinhos nos bares da vida, falô?!

"Seu Manoel! Traz a 'saideira' de 87.
Picadinho nem precisa mais. Feliz 88, seu Manoel!!!"

Al perderte...

Al perderte yo a ti
Tú y yo hemos perdido:
Yo por que tú eras
Lo que yo más amaba
Y tú por que yo era
el que te amaba más.
Pero de nosotros dos
tú pierdes más que yo:
Porque yo podré amar a otras
como te amaba a ti,
pero a ti no te amarán
Como te amaba yo.


                     Ernesto Cardenal






sexta-feira, 26 de agosto de 2011

No bunker

O som dos reco-recos entrou ribombando nos pavilhões esquerdo e direito de Ferbundo Bollor, deslizando por estes até colidir em frontal com os timpânicos amplificadores da sua consciência. "Fora", "Deu Pra Ti", "Milho da Gruta" e outros. Ele afundou a cabeça no travesseiro Yves Saint Exupéry, ergueu aerobicamente os braços, peidou em alto e bom som e, quando ia terminar um grande bocejo, foi interrompido pela estrepitosa e borralheiresca adentrada de Gozane, acompanhada como sempre de seus trinta e cinco guarda-costas-lados-frente-coxas-boca: "Amor, chama um camburão e mete essa meia dúzia de jegues molhados (genérico alagoano de gatos pingados) na solitária". "Cala essa matraca, o praga! As luz! Apaga as luz ligero!" O local não tinha mais o fausto da Cabana da Prima, em Baunilha, mas a comida ainda era farta em carne de sol, leite de coco, rapadura e farinha, muita farinha. As acomodações eram as mais variadas e graciosas, desde cubículos privativos um por um, com redes muito bem acabadas e confortáveis, passando por beliches um por meio, emparedados, forrados com sacos de estopa novinhos, e culminando com resmas e resmas de papel espalhadas pelos corredores fétidos, úmidos e iinfestados de ratos, baratas e outros insetos, papéis estes que sobraram de campanhas eleitorais do passado. Aliás, sobre estas resmas, dizem que são o local preferido de Tesesa, a cunhada de Ferbundo, para a sua prática esportiva predileta: dar pulinhos. Carl Lewis que se cuide, é a última anedota que anda fazendo o pessoal gargalhar e se mijar e vomitar carne de sol de tanto rir lá embaixo. Risos que só são interrompidos pela chegada do hieróglifo, hipnótico, hipertenso, híbrido e anti-higiênico administrador do bunker. O deus, o todo-poderoso, o único: B.R. Fez. É a ele que todos aplaudem e idolatram, as mulheres se rasgam, os homens se abichonam e as crianças ranhentas choram e babam tudo ao mesmo tempo. Uma consagração. Coisa que deixa Ferbundo indignado. Afinal, ele e alguns amigos, seus irmãos Medro e Leopolvo, e muitos outros, estavam sendo ludibriados por B.R. Fez. Não era aquilo que tinha sido combinado quando do início da construção da minifortaleza de quinze por dez, no fundo do pátio e da piscina da Cabana da Prima. Enquanto ele e os outros carregavam as pedras, o cimento e a areia  pro buraco, ele (Fez) não saía da casa principal, calculando os gastos da família Bollor, com a assessoria sempre presente de Gozane, Tesesa, secretárias e mais secretárias. Bem. Bundinho (apelido de infância de Ferbundo) não aguentava mais aquela situação. Correu desesperado até a entrada de ar. Respirou ofegante, mas decidido: pisando sobre pernas de crianças no chão, interrompendo o entrecurso carnal de um garotinho com uma velha alagoana de seus sessenta e poucos anos, de sua boca espolcavam feéricos e raivosos perdigotos ao gritar sua repulsa: "Larguei, B.R., larguei. Hoje é cinco ou seis de agosto de 2004, tu disse que em pouco tempo a gente saía dessa. E até agora, nada. Nem um bife, B.R.!" Ao que B.R., de bate-pronto, retrucou: "Calma, Bundinho, calma". E sendo ovacionado se deslocou em direção às pilhas de papel, onde Gozane e Tesesa promoviam brincadeiras para os homens do local: "Agora é eu!". E os reco-recos recomeçaram...

Arquipélago

Uma gota de chuva deslizou indiferente pelo vidro da janela, fazendo-me despertar. Voltava de longo voo por entre ilhas problemáticas, penínsulas depressivas e rápida escala no farol da solidão. Foi no farol, aliás, que decidi pela volta. O breu gelado e úmido daquelas paragens cortavam como navalha o meu peito, e doía, e maltratava-me por dentro. Lembro bem que, ao sair, procurava luz, calor, sol. E também recordo que os cheguei a ver de frente, bem de perto, quase tocando-os, e que foi neste momento, quando tudo parecia quente, aconchegante, claro, que essa mesma luz, esse mesmo sol me cegou, me tirou os sentidos e jogou de cabeça contra as rochas do arquipélago das desilusões, primeira parada da viagem que comecei na segunda frase desta crônica. Desde então, dou extraordinário valor a qualquer gota de chuva que, indiferente, desliza pelos vidros das janelas.